quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Dissecando a mente de um fanático

As eleições presidenciais de 2018 mostraram como o brasileiro está polarizado e analfabeto politicamente. Neste texto, pretendo discutir sobre os motivos psicológicos que levam alguém a se tornar um fanático.
Oque é um fanático?
Alguém que acredita cegamente em algo, sem a menor possibilidade de questionamento, por mais absurda que seja a crença. Geralmente associado a religião, e nos últimos tempos engoliu o debate político.
O fanático político acredita que o seu lado ideológico é o defensor de tudo que é bom e justo, o único lado que vê a verdade e não é manipulado pela grande mídia. É constantemente atacado e difamado pelo poderoso adversário, que por sua vez defende apenas coisas perversas e tem uma massa de manobra burra.
 
"As pessoas demonizam quem discorda delas, atribuindo diferenças de opinião a estupidez e desonestidade" Steven Pinker
 
Esse alienado acha que só ele tem razão, e que as pessoas que não concordam com suas ideias, apenas não estão escutando com a atenção devida ou são mal caráter. Ele só vê narrativas que já fazem parte da sua realidade, todas as outras são falsas.
 
“Os melhores livros, compreendeu são aqueles que lhe dizem oque você já sabe” 1984 de George Orwell

As bolhas virtuais
A internet se transformou em um reduto de fanáticos. Os algoritmos sugestionam apenas conteúdos que fazem parte do seu nicho, o usuário acaba cego ao diferente. Os poucos produtores de conteúdo que tentam ponderar sobre ambos os espectros políticos são tachados de oportunistas e isentões (não sabem eles que as pessoas de centro são justamente amassadas pelos dois lados).
Existem cada vez menos pessoas que consomem conteúdos de ideologias antagônicas sem enaltecer um lado em especial.

" Se não quiser um homem politicamente infeliz,não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um."
Farenheit 451 de Ray Bradbury

A armadilha dos custos irrecuperáveis
Quando investimos tempo e recursos em algo, é difícil aceitar que tudo foi inútil e abandona-lo. Meu pai ainda tem um aparelho de vídeo K7 e algumas fitas, obviamente não funcionam mais, porém ele se recusa a jogar fora, porque esses objetos custaram muito alto para ele.
Depois que eu finalizei meus  2 anos de estudo para fazer a primeira comunhão na igreja católica, minha família resolveu migrar para a protestante quase que imediatamente. Eu resisti fortemente, porque aquilo jogou meus 2 anos de tempo indo a encontros e missas no lixo. Outro exemplo são pessoas que não querem mais estudar na faculdade, mais resolvem acabar o curso para vingar as cadeiras que já pagaram.
O mesmo vale para a militância política. Uma pessoa que passa a vida falando suas opiniões rasas nas redes sociais e fazendo campanha dificilmente vai aceitar que tudo isso pode ter sido para nada. Isso é demais para o ego delas.

Nos tornamos aquilo que falamos
Quando o ser humano se identifica com algum grupo ou ideologia, ele inconscientemente se fecha para as ideias opostas e aquilo que ele acredita passa a se tornar oque ele é.
Em um experimento numa praia em Nova York. Dois pesquisadores assumiriam o papel de vítima e ladrão. O primeiro se instalava em um canto da praia e depois abandonava seus pertences lá, o 2° seria o ladrão que iria furta-los na presença do sujeito a ser pesquisado. 
Na primeira fase, apenas 4 pessoas das 20 desafiaram o ladrão. É muito compreensível que a maioria deles não queira se arriscar para defender objetos que sequer são seus.
Mas na segunda fase, 19 dos 20 tentaram proteger os bens do pesquisador. Simplesmente porque antes de sair, o dono dos objetos  perguntou se eles iriam vigiar o lugar e eles responderam sim!( Algeier, Byrne, Brooks e Revnes, 1979 ; Asch, 1946)
 É muito comum organizações/empresas de caridade abordarem potenciais voluntários/clientes e pedirem assinaturas. Eles geralmente não pretendem fazer nada com elas, porque apenas o ato de assinar pode fazer alguém se tornar cliente ou voluntário para alguma coisa que elas normalmente não fariam. Quando assumimos compromissos, nossa psique sente obrigação de coerência.

Uma saída
A minha humilde ideia para escapar do fanatismo seria evitar se identificar com qualquer ideologia. Não ser de direita ou esquerda, não ser vegano ou espirita.Sempre analise todos os lados igualmente sem privilegiar nenhum.Você é apenas você. Hoje você acredita em certas coisas, amanhã pode não acreditar mais.Não existe vergonha em repensar seus posicionamentos. Aquele que não se permite mudar de ideia e sabe que já está do lado certo é o maior ignorante que existe.


"Os radicais sempre vêem as questões em termos muito simples: preto e branco,bom e mal, eles e nós, e ao abordarem questões complexas desse modo, abrem caminho para o caos"  Leto Atreides II em O imperador deus da Duna por Frank Herbert