quinta-feira, 13 de julho de 2023

O guia definitivo da memória (Scott Young)

     A memória é um componente essencial para a vida humana. Com ela podemos não apenas executar atividades que garantem a nossa sobrevivência, como também armazenar aquilo que somos. Nesse resumo do artigo sobre a memória, pretendo falar dicas de como maximizar esse atributo.Existem várias formas e modelos para caracterizar a memória, conforme será visto abaixo.


1. Retrospectiva: A capacidade de memorizar o que ocorreu no passado;

2. Prospectiva: Memorização de atividades que devem ser realizadas no futuro;

Outras formas de classificação:

A. Implícita: Habilidades para executar certas tarefas que são difíceis de colocar em palavras, como escovar os dentes,  dirigir ou escrever;

Episódica: Eventos e coisas que aconteceram em sua vida, como seu ultimo aniversário, ou a ultima pessoa com quem tretou; 

Semântica: Fatos e significados, coisas que você aprende na escola;

As etapas da memória

1. Codificação

    A codificação é o primeiro contato entre a informação que se deseja memorizar e o cérebro. Quando você quer memorizar um número de telefone e tenta repetir a sequência várias vezes, existe mais chance de o memorizar do que simplesmente olhando uma vez. Isso é codificação, mas existem estratégias cognitivas mais eficazes e robustas do que simplesmente repetir um monte de informações várias vezes.

Ressignificar é mais importante do que querer decorar 

    Um estudo científico formado foi formado por dois grupos de estudantes. O primeiro grupo recebeu uma lista de palavras, e foram devidamente informados de que deveriam memorizar essas palavras porque fariam uma prova sobre elas. Já o segundo não recebeu nenhum aviso sobre teste, e simplesmente recebeu instrução de catalogar por colunas essas mesmas palavras.

    Seria esperado que o primeiro grupo obtivesse um resultado melhor no teste, porque foram devidamente informados e tinham a intenção de memorizar as palavras, mas surpreendentemente, foi o segundo grupo que teve resultado melhor.

    Isso significa que a melhor forma de memorizar algo, não é simplesmente ter a intenção decorar, e sim combinar e relacionar essas várias informações entre si e com o conhecimento que já está no seu cérebro. Exemplo: para decorar uma placa de um carro como OFA-6472, você pode lembrar que 64 e 72 fazem parte e ainda são vizinhos da tabuada do 8.

    Outro estudo que demonstra a efetividade desse método, foi uma pesquisa onde dois grupos deveriam memorizar uma série de palavras. O primeiro deles deveria ler em voz alta, e o segundo deveria escrever antônimos. O segundo grupo obteve resultado mais satisfatório, pois envolvia um processo de ressignificar as informações.

Processamento superficial e profundo

    Outra tática é sempre refletir sobre o significado ou o porquê de as coisas funcionarem do jeito que elas são, isso é chamado de processamento profundo, que se opõe ao modo superficial , que simplesmente só  quer decora as coisas. Isso é muito útil no estudo da história. Ao invés de simplesmente decorar fatos, é mais eficaz entender o que os provocou, como era a mentalidade, o cenário e os motivos que provocaram determinado acontecimento.

Dependência de estado

    Pesquisas recentes descobriram que nossas memórias estão ligadas ao nosso estado emocional e químico. Isso significa que se você aprende alguma coisa sob efeito de álcool, café,  cigarro ou maconha, você tem mais chance de recuperar essa informação se ingerir de novo esses elementos. Se você estuda fazendo determinadas atividades como musculação, ou um determinado humor, as chances de recuperar a informação nesses estados é maior.

    Dessa forma, a maneira mais efetiva de reter o conhecimento é superar as dependências de estado, passando metade do tempo absorvendo o conhecimento no estado mental em que você será testado, e outra metade do tempo em estados de espírito diversos.

2. Armazenamento

    O armazenamento é a competência que impede que a memória seja perdida. Infelizmente, o esquecimento faz parte da maneira com que o nosso cérebro organiza suas informações, e todo estudante enfrenta uma batalha diária contra a degeneração de suas memórias, mas com certos hábitos e estratégias, é possível obter uma vantagem contra esse inimigo.

 Relembrar é viver

    O nosso cérebro pode apagar conexões neurais para abrir espaço para novas memórias, ou simplesmente esquece porque achou que essa informação não era usada o suficiente. Então para melhorar a memória, é importante passar 10% do seu tempo de estudo revisando. De preferência, essas revisões devem ser bem curtas e espaçadas.

Sono

    Quando uma memória é adicionada ao cérebro, leva um tempo até ser decidido de ela vai ser apagada logo ou será durável. O sono é essencial para controlar esse processo. A privação de sono gera sérios prejuízos para consolidar a memória, e sonecas de 90 minutos são boas estratégias para melhorar a qualidade de aprendizado. Estudar antes de dormir também é útil para maximizar a memorização.

Interferência de memória

    Para recuperar uma memória, é necessário ter um gatilho ou caminho para sua recuperação. Quando duas memórias possuem o mesmo gatilho, elas tendem em provocar interferência entre si. É por isso que é mais fácil lembrar os locais visitados em uma viagem para outro país do que para onde você foi quando saiu de casa na semana passada.

    Em uma pesquisa onde dois grupos deveriam memorizar fatos sobre duas ilhas, o primeiro grupo recebeu uma revisão extra sobre a ilha A. Como resultado disso, esse grupo teve os resultados do teste sobre a ilha B piorados, enquanto os da ilha A obviamente foram melhores. Moral da história: memorizar um assunto específico pode acabar fazendo você esquecer de outra parte do assunto que não foi revisado.

    Para mitigar os efeitos da interferência de memória, é necessário revisar os assuntos igualmente, e destacar as diferenças entre eles, para que seu cérebro não ache que se tratam de uma mesma memória.

Espaçamento

    Ao invés de fazer grandes seções de estudo, o ideal é fazer pequenos blocos de tempo espaçados. Flashcards e outros recursos que permitem revisões rápidas são uma ótima forma de potencializar o armazenamento de memória.

3.Recuperação

    O processo de recuperação é o mecanismo de acesso às informações armazenadas na memória. O sucesso na recuperação de uma memória depende das suas associações com pistas. Uma pista pode ser qualquer coisa conectada à memória (objeto físico, situação, período de tempo, palavra, pergunta). Os cientistas acreditam que as memórias são recuperadas através do processo de "ativação difusa". Uma vez que uma pista é ativada no cérebro, a ativação se espalha da pista até a memória alvo. Um único traço de memória pode estar conectado a um número infinito de pistas. Se nenhuma das pistas relevantes for ativada, o traço de memória não pode ser recuperado, mesmo que esteja bem armazenado na memória.

    A falha na recuperação ou a incapacidade de lembrar um traço de memória pode ter várias causas. Uma delas pode ser a falta de atenção durante o estudo. Pesquisadores descobriram que os estudantes que realizam uma tarefa secundária enquanto estudam têm um desempenho pior em um teste posterior em até 30-50% em comparação com os estudantes que se concentram em uma coisa de cada vez. Esses resultados sugerem que fazer várias tarefas ao mesmo tempo, como multitarefa, prejudica especialmente a aprendizagem.

    Outra razão para a falha na recuperação é um número insuficiente de pistas ativadas. As pistas são informações conectadas ao traço de memória alvo e devem ser ativadas para que o traço de memória seja recuperado.

    Se você está lutando para lembrar um conceito importante durante seu exame, você precisa ativar o máximo de pistas conectadas possível. Por exemplo, tente visualizar-se no contexto do estudo. Seja o mais vívido possível - imagine-se com um livro didático aberto, fazendo anotações, sentado em sua mesa. Apenas imaginar o contexto da codificação pode ser útil para gerar atividade suficiente para recuperar com sucesso o traço de memória.

    Além disso, tente lembrar os detalhes do contexto em que você estudou o conceito específico com o qual está lutando (como em qual página do livro estava, quais outros conceitos você estudou antes e depois desse conceito). Note que, para uma recuperação bem-sucedida, é importante ativar as pistas conectadas. Como nossas memórias funcionam como instantâneos (tudo o que está presente durante a codificação é codificado juntamente com o traço de memória), essas pistas podem ser relevantes (como conceitos relacionados) ou até mesmo completamente irrelevantes (como a hora do dia ou até mesmo o que você almoçou na época do estudo, etc.).

 

fonte do texto original

 

 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Resumo do guia da memória operacional (Scott Young)

    Nesse post, eu continuo com minha série de resumos sobre os mini livros de Scott Young, dessa vez iremos abordar a working memory (Memória operacional) que é a memória que usamos quando estamos executando uma tarefa ou aprendendo algo novo.

O que é a memória operacional

    Ela é o espaço mental que nosso cérebro utiliza para combinar novas informações e pensamentos, e gerar novas ideias.Ela pode ser comparada a bancada de trabalho de um carpinteiro .Seguindo o modelo de Alan Baddeley, a memória operacional pode ser resumida em quatro componentes:

1. Loop fonológico: Armazena sons, como frases e números;

2. Bloco de desenho visual: Armazena imagens ou "vídeos";

3. Central executiva: Capacidade de manipular as informações, em outras palavras: Você;

4. Buffer episódico: Essa componente não é trabalhada nesse guia;
 

Por que a memória operacional é relevante

    A memória operacional determina o quão inteligente uma pessoa é. Quando você está assistindo uma aula, e percebe que a partir de um certo ponto deixa de aprender ou prestar atenção, significa que sua memória operacional está sobrecarregada.


Como melhorar o loop fonológico

1. Não escute música enquanto estuda, a música ocupa uma parte do espaço do loop fonológico, mesmo quando ela é instrumental ou em língua estrangeira. Além disso, estudos demonstram que as pessoas não são boas em avaliar o efeito das músicas em si mesmas. Pessoas que dizem precisar de música para estudar tendem em ser as que mais se prejudicam com ela.

2. Pratique memória de curto prazo envolvendo dígitos. A maioria das pessoas conseguem escutar e memorizar até quatro algarismos. Com prática, você pode aumentar essa faixa.

Como melhorar o bloco de desenho visual

1. Melhore sua imaginação e capacidade de mentalizar abstrações através da leitura.

2. Use estratégias de imaginar coisas absurdas ou lúdicas misturadas com informações que você quer memorizar

Como aprimorar a central executiva

1. Não seja multitarefa. Pensar em várias atividades ao mesmo tempo é ineficaz. Cultive o foco através da meditação e detox de dopamina.

2. O design dos seus materiais de estudo também é importante. Alguns livros cometem erros de formatação que dificultam o aprendizado.

 


Particionamento: O segredo para aprender qualquer coisa

    A forma mais efetiva de aprender, é acumulando conhecimentos menores e os juntando em blocos maiores. Utilizamos essa técnica para memorizar números de telefone, memorizando os dígitos em duplas ou trios. Essa técnica, embora simples, pode ser usada para memorizar conceitos e fórmulas matemáticas complexas, desde que o estudante use sua criatividade para idealizar o tipo de particionamento mais conveniente.

    Para resolver equações diferenciais por exemplo, o estudante usa vários blocos de conhecimento: álgebra, integração, diferenciação entre outras habilidades. No geral, esses blocos são mais eficientes quando as informações contidas neles são semelhantes. É mais fácil memorizar um grupo de palavras que correspondem a pedras preciosas, do que memorizar a mesma quantidade de palavras de um segundo grupo sem nenhuma relação entre si.

Pré treinamento

    Em uma pesquisa envolvendo o ensino de sistemas de freio de carros, um grupo de alunos recebeu um breve pré treinamento sobre os nomes dos componentes e onde eles estão localizados, enquanto o grupo de controle recebeu todas as instruções de uma vez.

    Embora os dois grupos tenham sido expostos à mesma informação, o grupo do pré treinamento obteve performance melhor. Você pode aplicar esse princípio em várias situações. Se futuramente você irá estudar sobre máquinas elétricas, um pré treinamento interessante seria estudar sobre as partes de um motor, seus nomes e suas utilidades.

Carga cognitiva

    A carga cognitiva corresponde a dificuldade para que a memória de trabalho armazene informações. Resolver problemas aritméticos demanda uma carga cognitiva menor do que solucionar problemas de probabilidade. A carga cognitiva é a culpada pelos problemas de aprendizado. Ela é dividida em três categorias.

Carga intrínseca: A dificuldade da tarefa por si mesma. Quanto mais complexa for a atividade, maior é a carga cognitiva associada. Para lidar com esse problema, é recomendado é separar o problema complexo em várias partes menores, e tentar dominar essas partes gradualmente.

Carga extrínseca:  Está associado ao mal design do material de estudo. Para resolver esse problema, basta trocar seu material de estudo por outro melhor

Carga germânica: Esse terceiro tipo de carga representa o esforço para unir todos os particionamentos e realmente aprender o conhecimento.

Ansiedade

    A ansiedade é um veneno para a memória operacional. É possível superar a ansiedade fazendo com que ela seja transmutada em excitamento em aprender algo novo.